(Estrela brilhante, quisera ser tão impassível como sois)
Inglaterra - Em 1818, numa antiga aldeia do norte de Londres, encontram-se na casa de conhecidos os jovens John e Fanny. Ele é um poeta pobre, responsável pelo irmão tuberculoso, vivendo de favor na moradia do amigo Charles Armitage Brown. Ela tem apenas 18 anos, mora com a mãe viúva e os irmãos mais novos no pequeno chalé vizinho, em Hampstead. Fanny Brawne passa os dias costurando e não se interessa por literatura, até conhecer melhor John Keats. Aos poucos, a personalidade e a beleza das palavras do poeta vão se insinuando em seu mundo de fitas, bordados, danças e chapéus.
Ah, os românticos vão se deliciar com essa obra da neo-zelandesa Jane Campion! O breve e casto romance entre o poeta Keats e Fanny Brawne tem todos os ingredientes dos ardentes relacionamentos amorosos: paixão inspiradora, a obcessão dos enamorados, obstáculos ao casamento, doença, pobreza, separação. Para suavizar umas experiências tão dolorosas, trechos dos poemas e as belas imagens criadas pela diretora, expressas na fotografia de Greig Fraser. Afinal, como escreveu John, "A thing of beauty is a joy forever" (uma coisa bela é uma alegria para sempre).
A seleção do elenco foi primorosa, especialmente a escolha dos jovens atores para interpretar os irmãos de Fanny: o longilíneo adolescente Samuel e a pequena Toots, a caçula da família, com seus cabelos encaracolados vermelhos e os ingênuos olhos enormes. Também se destacam a reconstituição dos costumes e o vestuário. Mas a estrela mais brilhante no filme é Abbie Cornish interpretando Fanny, a adolescente prática que descobre simultaneamente o mundo encantado da poesia e o sentimento de estar apaixonada. Deixando de lado frivolidades e aparências, Fanny Brawne apiedou-se de Keats.
Emocionada pelas desventuras do casal, lembrei-me do meu primeiro amor. O namorado conquistou meus quatro irmãos com brincadeiras e companheirismo. E a mim com gentileza, humor, lagostas que ele arpoava no mar de Angra e muitos versos de Fernando Pessoa. Durante longos telefonemas, que exasperavam meu pai e me embalavam, ele ia contando: "Ó sino da minha aldeia/dolente na tarde calma/cada tua badalada/soa dentro de minh'alma" - "Ai que prazer não cumprir um dever, ter um livro para ler e não o fazer". As suas outras qualidades venho descobrindo durante quatro décadas de convivência.