O Senhor das Moscas é um livro de alegoria escrito por William Golding, vencedor do Prêmio Nobel em 1983. Foi publicado em 1954. Embora não tenha sido um grande sucesso à época – vendendo menos de 3000 cópias nos Estados Unidos em 1955 antes de sair de catálogo – com o tempo tornou-se um grande sucesso, e leitura obrigatória em muitas escolas e colégios. Foi adaptado para o cinema em 1963 por Peter Brook, e novamente em 1990, filme estes que também passaram a ser exibidos em diversas instituições educacionais. O título é uma referência a Belzebu (do nome hebraico Ba’al Zebub), um sinônimo para o Diabo. É geralmente lembrado como um clássico da literatura do pós-guerra, ao lado de A Revolução dos Bichos e O Apanhador no Campo de Centeio.
O livro retrata a regressão à selvageria de um grupo de crianças inglesas de um colégio interno, presos em uma ilha deserta sem a supervisão de adultos, após a queda do avião que as transportava para longe da guerra.
Muitos interpretaram O Senhor das Moscas como um trabalho de filosofia moral. O cenário da ilha, um paraíso com toda a comida e a água necessários, pode ser visto como uma metáfora para o Jardim do Éden. Assim, a primeira aparição do “Bicho” seria o surgimento da serpente, como o mal surge no livro de Gênesis.
Um dos principais temas do livro é a natureza do mal. Isto pode ser claramente visto na conversa que Simon mantém com o crânio do porco, que se refere a si mesmo como “O Senhor das Moscas” (uma tradução literal do nome hebraico de Ba'alzevuv, ou Beelzebub em grego). O nome, enquanto se refere aos enxames de moscas sobre si, claramente refere-se ao personagem bíblico.
O Senhor das Moscas contém inúmeros temas e simbolismos. Qualquer um dos personagens pode representar diferentes papéis na sociedade.
Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder por escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para todos.
Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona controlar a todos na ilha.
Porquinho pode representar a ciência, uma vez que ele age de modo lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é melhor para eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e que tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu comportamento imita o dos cães.
O "Bicho" representa a propaganda, causando medo por um inimigo nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
Simon representaria a fé e a religião, por ter visões e revelações místicas. Também poderia ser caracterizado como tendo esquizofrenia.
Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com clareza.
A concha representa ordem e democracia na ilha.
Outras interpretações consideram não tanto uma alegoria política, mas uma alegoria social. Esta linha de pensamento indicaria que:
Ralph representa o governo, a ordem e a responsabilidade
Porquinho representa a inteligência e a razão, não importando o quão impopular a verdade possa ser
Jack representa a barbárie, o lado negro da humanidade.
A concha representa a civilização, e quando Jack a abandona, ele rompe as amarras que o prendem ao mundo moderno.
O fogo representa a utilidade, um meio para um fim, o qual, quando usado de modo incorreto, se torna um fim em si mesmo
O Senhor das Moscas representa o Mal escondido no coração de todos.
Trecho do Livro
… De ser chamado de Porquinho. Eu disse que não queria ser chamado de Porquinho. E eu disse para você não contar e você falou pra eles…
Descobriu que compreendia o aborrecimento daquela vida, onde todo caminho era improvisado e uma parte considerável do tempo em que se estava desperto era passado olhando onde pisar.
Como esperam ser salvos se não fazem primeiro o que tem de ser feito primeiro e não agem certo?
Queremos ser salvos; e, sem dúvida, seremos salvos.
Sua mente estava povoada de lembranças: lembranças da tomada de consciência, quando fecharam o cerco sobre o porco que se debatia, o conhecimento de que haviam vencido uma coisa viva, imposto sua vontade a ela, tirado sua vida como que sorvendo longamente uma bebida deliciosa.
Haviam adivinhado antes que era uma ilha; enquanto avançavam por entre as rochas rosadas, com o mar de um lado ou de outro, sob as alturas cristalinas do ar, souberam instintivamente que o mar estava por todos os lados. Mas parecia que algo lhes dizia da convivência de deixar a última palavra para quando chegassem ao cimo: e dali, agora, podiam ver um horizonte circular de água.
Não peço que você seja um bom amigo, direi, não porque você seja forte, mas porque o que é certo é certo.
No oeste, o sol era uma gota de ouro ardente que decaía mais e mais para perto do umbral do mundo. De repente, todos perceberam que a noite era o fim da luz e do calor.
Pela primeira vez, desde que chegara à ilha, entregou-se ao choro; grandes e convulsivos espasmos de tristeza pareciam torcer todo o seu corpo. Sua voz elevou-se sob a fumaça negra diante dos restos incendiados da ilha; contagiados por aquela emoção, os outros meninos começaram a tremer e a soluçar. No meio deles, com o corpo sujo, cabelo emaranhado e nariz escorrendo, Ralph chorou pelo fim da inocência, pela escuridão e pela queda no ar do verdadeiro e sábio amigo chamado Porquinho.