O preço de um aluguel em Tóquio é alto demais, o que leva uma mãe a fingir que tem apenas um filho quando se muda para uma casa nova com espaço para apenas duas pessoas, trazendo outras duas crianças escondidas em malas e deixando a menina mais velha esperando do lado de fora até os proprietários dormirem. As crianças não podem ir à escola, nunca saem de casa e precisam ficar o tempo todo escondidas. A mãe parece ser uma pessoa imatura e irresponsável, e delega responsabilidades pesadas demais para o Akira, o filho mais velho que tem apenas 12 anos.
O filme é baseado em uma história real, o caso das "Crianças abandonadas de Sugamo" ocorrido no Japão em 1988.
O filme foi realizado por Hirokazu Koreeda, sobre quatro crianças que aprendem a viver sozinhas depois da sua mãe as abandonar. Baseado em um caso real,ocorrido em 1988 em Tóquio – que ficou conhecido como “ os quatro abandonados de Nishi-Sugamo”. Leia aqui. "Sugamo child abandonment case". Em inglês
O fato, que comoveu a opinião pública na época, aconteceu com uma família de baixa classe média em dificuldades, quando Keiko, uma mãe irresponsável abandona seus quatro filhos, e eles, temendo serem separados, durante seis meses fingem que nada aconteceu e continuam tentando sobreviver no pequeno apartamento onde a família morava. A situação só vem à tona quando uma das crianças morre.
Uma das razões que contribuíram para as crianças não serem descobertas mais cedo é que ninguém sabia que elas viviam ali. Quando a mãe alugou o apartamento, apresentou ao senhorio apenas o filho mais velho de 12 anos, Akira, a quem ela encarregou de cuidar dos demais, quando foi para Osaka em busca da emprego.
Para evitar o risco de serem despejados, os dois menores haviam entrado no apartamento dentro de malas, enquanto a filha de 11 anos chega depois e é apresentada como uma sobrinha de passagem por Tóquio.
A interpretação do personagem Akira deu ao jovem Yagira Yuya o prêmio de melhor ator no último Festival de Cannes, onde o filme concorreu à Palma. Narrado em tom documental, o filme é perturbadore muito envolvente. Seguindo a cronologia das estações do ano, Hirokazu vai mostrando a degradação física das crianças abandonadas pela mãe.
Na medida em que elas crescem, vão ficando mais magras, sujas e num local que se aproxima cada vez mais de um chiqueiro, sem água, sem luz e sem gás, cortados por falta de pagamento. A comparação com situações vividas por outras crianças no Japão e em outros lugares do mundo é inevitável.
A mulher é mãe solteira, os filhos têm pais diferentes que não assumiram os filhos e as crianças sequer estão matriculadas numa escola. Com a partida dessa mãe, acompanhamos a saga desse pequeno herói, Akira. Torcendo por ele. Pois ele faz de tudo para ser o pai e a mãe de seus irmãos. Ele tenta, com toda a sua frágil força.
Com aquilo que ele sabe fazer. Mas que ainda é uma criança. Mesmo assim, ele segue adiante, errando e aprendendo. Me vi também segurando aquelas mãos trêmulas no finalzinho. Não deu para segurar as lágrimas.
Bravo, Akira! Foste um grande herói!
Ninguém pode saber (Dare Mo Shiranai / Nobody knows). Japão. 2004.