Um dia na vida de Ivan Denisovich, escrito por Alexander Soljenítsin, é mais um conto clássico de ficção distópica, mas nesse caso as inspirações foram as experiências reais do autor e sua exposição ao regime de Stalin. Não era um cenário pós-apocalíptico futurista, e sim a vida real. Se compararmos os elemento básicos de Um dia na vida de Ivan Denisovich voltado para o nosso espaço de mundo a ideia se torna assustadora, pois começamos a perceber que isso pode acontecer algum dia se não formos cuidadosos ao incentivar e manter as liberdades civis, a liberdade humana e a cultura.
O livro é um retrato ficcional de uma era em que os cidadãos eram controlados e oprimidos pelo governo, as liberdades civis e a privacidade eram ignoradas, punições e torturas extrema eram aplicadas naqueles que se atreviam a expressar opiniões e as pessoas eram desumanizadas.. Um dia na vida de Ivan Denisovich reflete um período bem real na história soviética.
Alexander Soljenítsin nasceu em 1918 e lutou no Exército Vermelho contra os nazistas, que tinham invadido a Rússia. Na Batalha de Leningrado, ele serviu como capitão, mas, quando em 1945 (aos 27 anos de idade) criticou Stalin em cartas a um amigo, os soviéticos o prenderam e o condenaram a oito anos de trabalhos forçados e exílio em um campo de trabalho correcional. Recusando-se a cooperar com a polícia secreta, acabou em um campo de trabalhos forçados na Sibéria, onde decidiu escrever um romance sobre suas experiências.
Em 1929, mais de um milhão de cidadãos foram presos nesses campos de trabalho forçado chamados de Gulags. Em 1940, mais de 131 milhões de pessoas estavam nos Gulags. Os crimes que levavam à punição eram definidos vagamente no artigo 58 das leis soviéticas e incluíam espionagem não comprovada, suspeita de espionagem e simplesmente conversar com outras pessoas suspeita de espionagem, deixar as ervas daninhas crescerem, não ter uma safra grande o suficiente, deixar as máquinas quebrarem, deixar notar a intenção de realizar um ato terrorista e o crime mais comum: criar, distribuir ou escrever em uma carta ou um diário pessoal qualquer coisa relacionada à propaganda ou agitação contra o governo soviético.
O livro de Soljnítrsin começa quando Ivan acorda em um Gulag na Sibéria se sentindo mal e tendo que enfrentar outro dia difícil. Vemos que Ivan só conseguirá sobreviver se cuidar de si mesmo e não se preocupar com os outros prisioneiros. A violência é necessária para a autopreservação. Ivan e todos os outros estão morrendo de fome na prisão. Os guardas pegam partes de sua já escassa porção de pão diária, porque sem os furtos de alimentos nem os guardas podem sobreviver. Lutar por comida é essencial para que ele sobreviva.
Perto do fim do livro de Soljnítsin, Ivan comenta que a única razão de o regime permanecer no poder é porque Stalin dividiu as pessoas e as colocou umas contra as outras. É como o governo controla todos.
Stalin, cujo nome de nascimento era Ióssif Vissariónovich Djugashvíli, nasceu em 1879 e ascendeu de classes mais baixas da sociedade russa pré-revolução. Seu pai era um sapateiro alcoólatra violento; sua mãe, uma lavadeira; ambos eram servos na Geórgia antes de sua terra natal ser conquistada pelo czar. Stalin estudou para ser padre, mas deixou a Igreja para se tornar um ativista revolucionário e acabou preso. O governo czarista exilou Stalin na Sibéria.
Após a derrubada do czar, Stalin tornou-se um líder de alto escalão do Partido Comunista. Ele coletivizou a agricultura através da União Soviética nas décadas de 1920 e 1930. Quando distúrbios eclodiram porque os camponeses kulaks influentes não estavam compartilhando seus animais de criação, o governo enviou um milhão de famílias kulaks para a Sibéria. Outros camponeses, aqueles que estavam reclamando sobre a coletivização, foram enviados trabalhos forçados. Durante o início do anos 1930, milhões de pessoas morreram de fome sob o governo de Stalin. Esse é um caso claro do mundo real em que o governo brutal de um ditador deixou seu próprio povo morrer de fome, e ele não é o único caso até agora.
Paranoico com a ideia de que os cidadãos pensassem em iniciar revoltas ou rebeliões, Stalin torturou as pessoas, prendeu, exilou, as fez passar fome e deportou milhões para os Gulags, onde muitas morreram. No geral, Stalin foi responsável pela morte de quatro a dez milhões de seu próprio povo morrer, além de outros seis a oito milhões que morreram de fome. Esses são os números conservadores, pois alguns historiadores sugerem que ele foi responsável por mais de 20 milhões de mortes.